quarta-feira, 11 de julho de 2012

Réquiem - 13/04/2002


                  Nesses últimos dias, assistimos ao funeral da Rainha -Mãe da Inglaterra (rainha-mãe me lembra um dos filmes ALIEN). Como tudo na família real, foi cheio de pompa e cerimonial. Essa é a função da monarquia: manter viva a tradição da vassalagem, em que os seres comuns, como nós todos, fazem crer que existam algumas famílias que são melhores, quase deuses (ou ungidos por Ele) a quem devemos reverenciar, adorar, nos curvar, homenagear... Ingleses, fiquem com seus reis!!! Bom proveito pra vocês!!!
                  Na quarta-feira, perdi um amigo. Não era da família-real.  Era da família-dos-pedreiros. Era da família-dos-companheiros. Era da família-dos-corintianos. Era da família-do-PT. Era uma pessoa com quem eu podia contar. Era um amigo real, não no sentido da realeza, mas no sentido da realidade. Foi o companheiro de partido mais comprometido com sua visão política que eu tive. Uma pessoa simples mas altamente politizada. Um pedreiro que tinha como grandes paixões o Corinthians e o PT. Amante de uma boa prosa, não escondia de ninguém essas paixões e as defendia em qualquer ocasião. Por isso ficou caracterizado como Luiz PT. Não desanimava nunca e estava sempre pronto a trabalhar pelo que acreditava. Todos nós sabíamos que poderíamos contar com ele para o que viesse. Precisava de gente para fazer uma panfletagem? Chama o Luiz que ele vai. Gente para pintar um muro? Chama o Luiz que ele vai.  Fazer bandeiras? Chama o Luiz que ele vai. Carregar peso, fazer reunião, ajudar um turma? Chama o Luiz que ele vai... E ele ia mesmo, nunca recusou um convite. Vai fazer falta para o mundo.
                  Ele andava doente nesses últimos tempos, mas continuou com toda a sua animação. No sábado, anterior à sua morte, ainda nos encontramos em uma reunião. Ele contou que fizera uma pequena cirurgia interna e ainda fez piada que suas refeições estavam sendo batidas no liquidificador e que estava comendo "comida de papagaio". Preocupado com essa situação, convidei-o para uma reunião no domingo e achei até bom quando ele se recusou a ir. Achei que ele ia ficar de repouso. Que nada. Ele não ia para ajudar uma pessoa a fazer um muro que havia caído... E ele ajudou mesmo, não ficou só olhando. Não era de ficar de braços cruzados. Infelizmente, sua cirurgia não concordou com isso. Houve complicações, ele teve uma hemorragia e foi internado. Não sobreviveu.
                  Seu velório não teve a pompa da família real. Foi na sua casa simples de pedreiro, ao lado de sua família, seus amigos, suas coisas. Não foi velado como um semi-deus. Nós o vimos como um homem como nós mesmos, talvez mais dedicado que a maioria de nós, mas uma pessoa de carne e osso, que vai fazer falta pra gente, pelo que ele era. A gente costuma reclamar da morte, nunca achamos que seja direito que alguém parta. Não acredito que seja verdade que os bons morram antes. Acho apenas que nem notamos quando os maus partem. Eles não fazem falta e nos incomoda que ainda fiquem alguns pela nossa vida. Mas os bons, não. Estes nos são caros e sua ausência é lamentada e pranteada.
                  Nas manifestações de sentimentos, normalmente é pedido que façamos um minuto de silêncio em homenagem aos falecidos. Luiz não gostaria disso. Fui no seu velório, rezei um pouco, falei de política, chorei um pouco, contei piada, dei risada, lembrei alguns fatos de nossa convivência, me comprometi até a torcer de vez em quando para o Corinthians em seu nome. Espero que algum dia, a nossa realidade seja parecida com a que o Luiz sonhou. Onde ele estiver, estará incansavelmente, trabalhando para isso.

PS: Parece que está ocorrendo também a morte da uma candidatura forjada para presidência da república. Para essa não há réquiem, não há lamentação. É uma pena que o Luiz não esteja aqui para dar aquelas suas risadinhas... Eh, eh, eh, eh, eh....

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