Nessa hora em que o céu azul de uma tarde quente vai se pintando de um cinza mortiço, em que as nuvens claras tornam negras e carregadas preparando a chuva vespertina infalível desses dias, nessa tarde em que a voz dolorida de Alanis Morrisette penetra meus ouvidos cantando "That I Would Be Good" e encontrando em algum ponto do meu ser um eco à suas palavras e sentimentos, nesse começo de noite que traz junto com a calma os seus presságios de cores indecifráveis, o que eu queria mesmo era de te contaminar com a minha melancolia. Essa tristeza sem causa que me faz ficar calado e com o olhar nas distâncias insondáveis. Esse sentimento inexprimível, sem palavras e cheio de significados que não encontro, como um trovão reboando tão distante que não dá pra saber se o ouvimos ou se o pressentimos. Um tempo inundado de recordações e saudades de amigos que já se foram, que mudaram para longe ou, estando perto mudaram a si mesmo se tornando irreconhecíveis, estranhos, distantepertos. Uma saudade do que já fomos e já fizemos, como se nós mesmos fôssemos outros e apenas um resto de nosso rosto, de nossa essência, tenha sido poupada pelo relógio impassível do tempo. Uma ausência do que ainda teremos de passar, do que vamos realizar, ainda sem saber se é esse o caminho, se devemos avançar, recuar, parar? Mudar??
Ao longe a chuva já cai. A brisa úmida refresca a tarde abafada. Mas o corpo ainda tem sua carga de fadiga da alma. Essa é a hora imprópria, a hora duvidosa. A hora em que o temor invade a ala das esperanças dentro da gente. A hora em que eu preciso de uma companhia para ficar calada ao meu lado e apoiar sua mão na minha, ombro no ombro, com a respiração quase imperceptível e os pensamentos seguindo seus rumos, uma pluma levada suavemente pelo vento que atrai os olhares dos passantes e que se recusa a chegar ao chão. Como se as aragens conspirassem para mantê-la num equilíbrio instável mas sempre presente. A segurança insegura. A certeza duvidosa. Como se voar fosse possível. A mente fica meio embotada, parecendo sob o efeito de álcool. Acho que entendo quem mergulha nesses transes. Acho que tenho medo de não sair deles, apesar de minha outra face otimista e cheia de esperanças... Mas o que fazer quando essa flauta triste da música (sim, ainda estou ouvindo Alanis) e essa voz lamentosa encontram ressonância lá no fundo de mim e meu coração entra no ritmo suave e morno da canção?
Sei que não há motivos (pelo menos não os racionais) para depressões. No entanto o sentimento presente é de uma pausa, de um desânimo, de uma ausência... As nuvens choram suas águas, a chuva forma suas poças nas sarjetas, as folhas das árvores pendem sob o peso líquido e o homem não tem onde repousar sua cabeça.
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