quarta-feira, 11 de julho de 2012

Achados e Perdidos - 08/02/2002

               E por que é necessário e urgente, dia desses me tornarei Cavaleiro Andante, encarregado da localização da Sala Secreta onde estão acumulados os Itens Irremediavelmente Perdidos...

               É um prazer muito grande localizar algo perdido. Um livro, uma carta, um brinquedo de infância. Que alegria quando, ao vestir uma roupa meio abandonada no armário, nos deparamos no fundo do bolso, com uma nota amarrotada, um Real que seja, mas que nos aparece gratuitamente, como um presente do destino. E que angústia a nossa ao procurar sem sucesso por um objeto extraviado, que sabemos que está por aí, mas nem com promessa para o Negrinho do Pastoreio ou São Longuinho, conseguimos localizar.

               Não sei se é uma questão de desorganização - ou como prefiro dizer: minha "organização caótica"- mas desde criança, minhas coisas somem. O diabo é que a lembrança permanece e fica um vazio no lugar delas. Onde será que anda aquele caderno onde escrevi meus primeiros textos? Onde andará aquela pedra de formato diferente que recolhi na beira de um rio? Aquela concha onde, criança, busquei a existência de uma pérola? Aquela moeda estrangeira que eu guardava no fundo da carteira? Uma vez, quando pequeno, ganhei uma bola de futebol, que naquele tempo chamávamos de bola de capotão. Não é que o brinquedo sumiu na primeira semana?! Procurei durante muito tempo esta bola e até hoje não consigo acreditar que ela simplesmente sumiu... E aquela fita cassete com uma música linda, a qual perdi até o nome? Nos dia de hoje me pego a arquitetar na consciência trechos de uma harmonia que julgo ser da "canção perdida". Onde estará aquele gibi que ganhei quando aprendi a ler? E a primeira foto com a namorada? Cadê a caneta que ganhei de meu pai? Onde, raios, estão as chaves que acabei de deixar sobre a mesa?????

               Deve haver um lugar onde estas coisas perdidas estão. Uma sala secreta, perdida ela também num labirinto de corredores e salas empoeiradas com portas emperradas e cheias de teias de aranha. Numa destas salas estão as minhas coisas, talvez também com nostalgia de mim, achando que o perdido sou eu que não as encontro.

               Um dia ainda acerto a porta, encontro a chave certa e reencontro os bens que deixei esparramados por aí, e um anjo - não sei se bom ou ruim - foi recolhendo e armazenando nessa seção de achados e perdidos dessa minha vida errante, que se procura e se perde...

               Tem de haver este lugar onde vou saborear novamente a companhia dos objetos ausentes. Quem sabe encontre até aquele amigo perdido. Mas o meu desejo mesmo é reencontrar as partes de mim que, inconformadamente, perdi. Minhas esperanças malogradas, a fé e as ilusões deixadas pelo caminho. As crenças e os sonhos que a vida adulta e a dura realidade vão destruindo lentamente. Quisera encontrar o Eu que deixei de ser, quisera vestir de novo aquelas idéias e ter mais garra para viver.

               Em algum lugar se encontra perdido um outro Eu. Aquele que fui e que ainda gostaria de ser, mas que de tanto perder objetos, sentimentos, partes, não sou mais. Talvez o outro Eu esteja me procurando, batendo em portas fechadas, desesperado por me ver perdido, na esperança de que um dia nos encontremos...

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