Uma das boas coisas de estar escrevendo estas crônicas é que o compromisso de escrevê-las me leva a estar sempre atento procurando um assunto sobre o qual falar. Isso leva a estar ligado e analisando cada fato. Sempre recomendo a meus alunos que querem se desenvolver na produção de textos a manter o hábito de escrever pelo menos um trecho por dia, mesmo que ainda não haja muita segurança sobre a qualidade do texto. Aconselho a manter um diário, mesmo que seja para anotar algo que tenha acontecido naquele dia, por mais infantil ou irrelevante que tenha sido. A autocrítica e o treino vão levando o escritor a melhorar seus textos e a obrigação de escrever leva ao raciocínio, à reflexão e ao desejo de conhecer melhor as técnicas e os recursos da língua. Amar se aprende amando, escrever se aprende escrevendo.
Procurando um assunto para a crônica de hoje encontrei duas comemorações. A primeira, óbvia, seria o feriado do dia 12 - dia da Padroeira do Brasil -, mas a última crônica já havia sido sobre outra santa, padroeira de Itaú e poderia se tornar repetitiva. A outra opção seria o dia dos professores, comemorado no dia 15. Esse assunto me atraiu mais por ser esta uma das minhas atividades profissionais e por ter participado de uma homenagem prestada pela Câmara Municipal na quarta-feira.
No mural da sala dos professores de nossa escola, havia desde segunda-feira uma interrogação: Por que você é professor? A seguir havia depoimentos de umas quinze pessoas expondo o motivo que o levou a ser professor. Muitos professores se identificaram com um ou várias daquelas razões. Mas a pergunta leva a tanta reflexão que eu nem consegui terminar de ler todos e passei a me analisar e a procurar os meus motivos. Muitíssimas vezes, nós professores nos interrogamos sobre o porquê de havermos escolhido esta profissão. E muito mais nos perguntamos por que insistimos nesta atividade complicada. De um modo geral, o professor é um idealista que quer fazer o seu trabalho: ensinar. E muitas vezes ele se decepciona por não conseguir resultados satisfatórios para ele. Muitas vezes sentimos vontade de jogar tudo para o alto e largar esta profissão, ou se acomodar e "deixar o barco correr". Alguns fazem isso, mas não parecem mais felizes. Ensinar é uma profissão que gruda na gente, se torna um vício do qual não nos livramos nunca mais. Como tudo neste mundo da pós-modernidade, a educação está em mudança e é muito fácil ver as novas necessidades. O difícil é saber como responder a elas. As escolas estão cheias de professores que procuram a maneira, a técnica, a mágica para tornar a escola eficiente e prazerosa. Esses são os professores que querem aprender, além de ensinar.
Nesse ponto enxerguei um motivador para eu ser professor: a vontade de aprender que me fascina. Não há nada melhor do que aprender. Nosso desejo inicial é aprender aquilo que iremos utilizar num período próximo, mas é um prazer grande aprender gratuitamente, sem a necessidade e o compromisso de usar aquilo. E quando menos esperamos, estamos fazendo uso do aprendizado, ou transmitindo a outro o que aprendemos. É ótimo aprender algo que não faz parte do nosso dia-a-dia, que não faz parte de nossa área de conhecimento ou do nosso repertório de assuntos. Que prazer ouvir uma pessoa que conhece um tema e fala sobre ele com segurança e desenvoltura! Que prazer é dominar um assunto assim para poder transmiti-lo a outros! Que bom estar atento para aprender o que existe de lógico, de técnico, mas também o que existe de subjetivo. Que beleza existe em uma equação matemática resolvida (que ciência exata!). Mas também que belo é observar e descrever um por do sol, um sentimento de melancolia, um rosto na multidão! Aprender e ensinar não se restringem a currículos e matérias escolares. Vale a pena sobretudo aprender e ensinar a vida pulsante em nossas veias, a vida e a história que cada um de nós carrega e constroi.
Chego aí a mais um motivo para ensinar: o sentimento de irmandade e igualdade que deve existir entre nós e que carrego como objetivo principal de vida. Assim como não é justo que alguns sejam milionários enquanto milhões morrem de fome, também não é justo que alguns eleitos detenham o saber e o transformem em mais uma forma de dominar os demais. Por isso quero aprender o máximo. Por isso quero ensinar o máximo. Acredito nas coisas que aprendi e sei do bem e do mal que elas me fizeram. Sei do belo que arranquei do mundo através dos conhecimentos obtidos e quero repassar para todos. O bom professor é aquele que sabe que APRENDER é diferente de PRENDER. Aquele que obtém conhecimentos não deve armazená-lo em um depósito. Para isso existem as enciclopédias, os livros, os computadores (coitados - possuem muitos conhecimentos, mas não podem utilizá-los). O ser humano com conhecimentos (conhecido como sábio) coloca à disposição da vida tudo o que sabe, tem prazer em repartir a sua sabedoria e sabe que só se ensina: aquilo que se sabe, aquilo que se ama, aquilo em que acredita, aquilo que se vive.
Ronaldo Amorim Teixeira é professor, com muito orgulho. E mesmo se algum dia não tiver uma sala de aula para o chamar de professor, espera poder ter ainda algo a ensinar. Ronaldoat@yahoo.com
PS. A respeito do horário de verão que começa hoje; não dá uma sensação estranha, como se nos houvesse sido roubado sessenta minutos de vida que poderia ser esplêndida? Ainda bem que nos devolvem ao final do período. Um conselho: comece a planejar o que você vai fazer com essa uma hora, quando for devolvida. Lembre-se que vai ser a única oportunidade que você vai ter de vivê-la.
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