sábado, 14 de julho de 2012

Insinuações - 31/07/2003


               Quem tiver um pouco de tempo, um índice de sanidade não muito maior do que o de loucura, e um bocado de paixão, dê uma pesquisada em  Clarah Averbuck. Ela tem uns textos espalhados pela net e um blog em http://brazileirapreta.blogspot.com/ . Meu primo Mauro vai gostar, se é que ainda não conhece. Mesmo porque além de ter talento, ela é fã de John Fante, Charles Bukowski e Paulo Leminski. Gente de peso


Eu quero, eu quero, eu quero...
Na revoada das horas recebo a visita das insinuações. Procuro você querendo que seja como eu. Procuro uma  metade querendo que seja diferente de mim. Procuro alguém que tenha pontes, ligações, curtos circuitos. Eletricidade relampeando na pele. Toque/choque. Alguém que descarregue e recarregue energia em toques de pele, mãos e bocas. Que me carregue no peito e que eu carregue nos braços. Que eu leve pra rede, pro sofá, pro tapete, pra cama. Que se deite comigo. Que durma comigo e que acorde de repente, no meio da noite sem saber se sonhou comigo... se disse meu nome... ou se escutou o seu...que não saiba de onde vem o despertar, mas que achegue seu corpo no meu, a pele quente, os cabelos soltos, as pernas sobrepostas, dedos a se entrelaçar. Sensações eletrizantes. Poros escancarados, o olfato ávido pelo cheiro do seu corpo, de seu pescoço, de sua nuca.
               O amor não cabe num corpo de homem. Nem em dois corpos. Multiplica-se, ocupa espaços. O amor se expande, explode em mil galáxias. Cintila na Via Láctea (leite derramado na origem da vida). E quer mais. Quer o sono tranqüilo e o acordar com café. E o gosto do beijo com cheiro de café, melhor, muito melhor do que com gosto de pasta de dente. E querer só ficar ali. Comer um pedaço de pão na sombra de seus olhos, ao som da amanhã que desperta e à luz do sol que nos espreita...
               Ouvir as palavras do dia a dia, mas de vez em quando atender ao silêncio e calar todos os assuntos para conversar na linguagem das mãos que se tocam, de olhos que mergulham nas profundidades onde se escondem as pepitas das emoções. Brilho de pedras refletidas em grutas escuras que afloram luzes irradiadas em olhos castanhos.
               Jornais espalhados, livros espalhados, revistas abertas, discos dispersos para um enredo conhecido. A história das paixões contada e cantada desde sempre e até o infinito, com diversos começos, meios e fins sempre temidos, sempre adiados, para alguns, congelados na eternidade. Ainda que incompletos, ainda que imperfeitos, nossa sonho constante: o amor. Só fala de amor com sentimento quem não o tem. Mas quem está satisfeito e saciado está morto. E mesmo o maior dos amores quer mais. Ou não é amor: é costume. Ser mais e receber mais. Por isso a ânsia e a busca do infinito, essa a causas da satisfação além da última saciedade. (Like a Rolling Stone: I Can't Get No Satisfaction But I Try, But I Try.)
 

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