"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite"
Clarisse Lispector
Sou presa fácil do vento e da tempestade, que gostam de me açoitar e me conduzir por caminhos que eu hesito em percorrer. Mas o vento, que é irmão do destino, sabe dos meus percalços e teima em mudar de direção na hora derradeira, quando o medo de caminhar já está quase vencido e a mão já se prepara para abrir as portas de aposentos conhecidos apenas em sonhos. Também hesita o vento e sou de novo lançado para o início de caminhos difíceis de percorrer. Às vezes, por um novo caminho, às vezes por caminhos já dolorosamente pisados.
A saudade do desconhecido que há por dentro dessas salas inacessíveis, ou do que existe dentro de meus sonhos, trazem resignação ao meu caminhar, e com passos pesados continuo na estrada, enfrentando o vento ou sendo carregado por ele. Quem sabe um dia o portal se abra...
Eu sei que por trás de cada porta há o seu rosto, assim como o vento também é você. Você, cujo nome não aparece, mas para quem eu escrevo. Você, cujo nome me proíbo de dizer e que, no entanto, está estampado na minha testa e na minha mente. Você, pra quem eu minto, procurando as verdades que não podem ser ditas. Mentiras que não trazem soluções, mas evitam soluços... Mensagens esquecidas em caixas de correspondências corroídas pelas tempestades. Bandeiras de intenções fustigadas pelos ventos e destruídas pelo tempo.
O escritor é um sofredor, pois quer resolver o mundo com palavras. Faz o período mais perfeito, usa os vocábulos mais adequados, se expressa. Mas as portas estão fechadas. Um texto não é feito só de palavras, mas do sentimento que escorre pelas mãos de quem escreve, mas não vai para o papel, muito menos para a tela fria. A chave, só quem escreve a tem. E o significado fica preso na mente do autor. Poetas devem se virar nos túmulos com nossas análises e buscas de significados. Só eles sabem o que quiseram dizer. Lançaram suas pistas, os maquiavélicos, mas o significado ficou preso em suas veias, nos seus dedos, escorreu como essência extravasada à custa das dores (não por acaso, autores comparam a atividade criadora com o parto). A busca do texto perfeito é uma futilidade. Tudo que escrevo é perfeito para mim, na hora que o faço. Nem sempre quando o leio. Às vezes, encontro mais de mim em textos alheios que leio. No entanto o que está lá? O sentimento do autor ou o sentimento meu, filtrado pelas minhas retinas, reelaborado pelo meu cérebro, fundido pelas minhas idéias?
Por tudo isso, não posso deixar de ser levado pelo vento, de ser arrancado das portas. Não posso deixar de ter sonhos e planos. Porque quando a tempestade amaina, eu sei que posso escrever. E venho aqui e derramo minhas queixas e lamentos. Um tanto para o leitor, mas muito mais para mim mesmo.
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