quarta-feira, 11 de julho de 2012

Do povo, para o povo - 26/01/2002

        
 Rubens Alves afirma que todo político deve ser como um jardineiro, que só se preocupa em tornar seu jardim acolhedor e bonito. Assim deveriam ser nossos prefeitos, interessados em tornar nossas cidades lugares bons para o corpo e agradáveis aos olhos. No meio de tantas críticas dirigidas aos políticos, há que se fazer jus às ações pequenas, mas com resultados.

          Perto da casa em que morei anteriormente, havia um espaço muito interessante: era um canto de terreno, um pequeno triângulo ilhado entre duas ruas e uma rodovia. Esse espaço foi transformado em uma pequenina pracinha. Havia uma sibipiruna enorme que cobria todo o espaço. Quando ela floria, as pessoas que tomavam conta da pracinha não deixavam os garis varrerem a rua e era um tapete amarelo de pequenas flores. Havia ainda dois tradicionais bancos de praça e uma mesa com quatro bancos de alvenaria. Ali nos finais de tarde o pessoal se reunia para jogar truco. Era uma praça originalmente frequentada por homens, principalmente aposentados. Fui lá algumas vezes com meus filhos, conversei algumas horas à sombra daquela árvore, presenciei pessoas vivendo horas agradáveis naquele espaço.
         
Hoje, no novo lugar em que moro, há um terreno vago, em cuja mureta alguns aposentados sempre se reúnem para conversar. Niro, Zé Walter, Iodi, Boliívar. Estive poucas vezes com eles, mas sempre os vejo por ali, alegres a papear. Parece que a aposentadoria é algo almejado por todos nós e quando a conseguimos não sabemos o que fazer com ela. Meu pai, depois que se aposentou, continuou se envolvendo com outros serviços, lutando contra a inatividade. Os anos envolvidos com o trabalho deixam um vazio difícil de preencher. Quem não consegue acaba se entregando ao vazio. Os que conseguem permanecem ativos, alegres e participativos.
          
          É muito comum que o aposentado se sinta desprestigiado, desprezado, abandonado. Jovens não dão valor ao seu conhecimento, a sociedade parece que não precisa dele e a única certeza é a aproximação do fim.
          
          Nesta semana, a Prefeitura de Itaú começou uma pequena obra na esquina em gente ao terreno vago próximo à minha casa. Pelo que fiquei sabendo, vai ser um espaço de estar, uma pracinha que vai dar mais conforto para o pessoal que ficava na esquina.
          
          Não sei de quem foi a idéia, mas é louvável. É o aproveitamento de um espaço ocioso, com um investimento pequeno e com um resultado prático e imediato. É o poder do povo sendo exercido para o povo. È a cidade sendo melhorada para seus habitantes. É o jardineiro cuidando de seu jardim.
          
          Antigamente, havia prefeitos que achavam que administrar era fazer praças. Ficou provado que não é. Há muito que se fazer, mesmo em uma cidade pequena e tranqüila como Itaú. Entretanto, uma pequena praça pode significar qualidade de vida.
          
          Quero fazer parte da comunidade da pracinha, acredito que mais gente vai frequenta-la. Meus filhos e seus amigos já demonstraram a vontade de participar. Vamos com calma. Não tiremos o sossego dos aposentados. Mas pressinto que a interação com eles pode ser proveitosa para todos.

PS. Recebi um email do Patrick parabenizando pelas crônicas. Um abraço pra você, Patrick. É bom saber que alguém está lendo, e até, gostando.

Ronaldoat@yahoo.com

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