sábado, 14 de julho de 2012

Companheiros 18/07/2003


                (Algumas idéias sobre a cultura.)
Depois de algum tempo de promessa, meu amigo Flaviano publicou o novo layout do site. E de quebra agregou novos colaboradores. Bem vindos, novos e velhos companheiros (em todas as acepções das palavras). Tenho lido-os todos e gostado bastante. Continuem firmes, divulguem seus pensamentos e, de quebra, ajudem a suprir algumas de minhas falhas.
                 Esse é um espaço privilegiado e democrático. Aqui participa-se. Aqui entramos em contato. Aqui descobri novas formas de comunicação e novos amigos. José Roberto é um deles. E nesse final de semana me presenteou com algumas jóias. Um desses presentes compartilho com vocês na outra crônica dessa mesma data escrita por ele intitulada "Família, Mercado e Ferramenta de Trabalho". O outro presente é uma fita de vídeo contendo entrevistas fascinantes. Uma mostra o arredio (à televisão) Frei Betto falando de sua vida, sua militância política e religiosa e sua atuação no governo Lula e no Programa Fome Zero. Muito boa de se assistir. Dá até para torcer para que a brasa adormecida da fé incendeie. Talvez. (Falar em fé é complicado: quem pode dizer que acredita ou duvida? Se mesmo quem não tem certezas, tem esperanças? Se mesmo céticos, fazemos planos e utopicamente sonhamos?). Frei Betto, com cara de menino maroto mineiro, não me sai da cabeça como o autor da "Oração do Pássaro":
Senhor,
Tornai-me louco, irremediavelmente louco
Como os poetas sem palavras para aos seus poemas,
As mulheres possuídas pelo amor proibido,
Os suicidas repletos de coragem
Perante o medo de viver,
Os amantes que fazem do corpo a explosão da alma.
(...)
                 Bem, depois do Frei Betto, outra iguaria: uma entrevista com o pessoal do Clube da Esquina, gravada à época em que Márcio Borges havia lançado um livro sobre eles. Puxa vida, entrei em êxtase ao ver tanta história e tanto talento juntos. Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges, Tavinho Moura, Murilo Antunes, Toninho Horta e Nélson Ângelo. Vejo aquele pessoal envelhecido, cheio de rugas e de cabelos brancos, e repletos de dignidade. Não dá medo de envelhecer quando se envelhece sem renegar raízes, sem abrir mão do que se acredita. Os caras falam o tempo todo de suas histórias, de suas músicas, de suas crenças. Tocam e cantam barbaridade! Dá pra ver a ânsia que têm de cantar junto, de improvisar um arranjo, de harmonizar uma voz diferente.
                 Nesse dia, à noite, comentava com um outro amigo da minha frustração de não ter conseguido formar um grupo assim, de amigos, de gente que se junta para tocar e cantar, pra falar de poesia, pra comentar de cinema, pra se viver um pouco em torno de cultura. E olha que Itaú tem um bocado de gente capacitada para isso. No entanto, ficamos sozinhos, separados, ensimesmados em nosso mundo, reclamando que o mundo está se acabando. O amigo falava também de como isso faz falta para as gerações mais novas, que não têm onde conhecer essa cultura que a TV não mostra.
                 Bastaria um dia, um horário e um local para as pessoas se reunirem e trocarem experiências, trocarem suas habilidades, mostrarem suas preferências. Ler uma poesia, própria ou não; mostrar uma tela ou um desenho. Trocar, viver, conviver. Muito do meu interesse e conhecimento da música nasceu de encontros pelas ruas de Itaú, de serenatas e reuniões em casas de amigos. Artistas precisam apenas de um espaço. Artistas autênticos querem apenas produzir. Os falsos artistas querem aparecer, se destacar, necessitam de produções para mostrarem, para suprirem o que falta em talento. O artista verdadeiro aparece pela sua arte. A cultura verdadeira é que se insere naturalmente. Que não é imposta por processos maciços e massivos. E que por isso, não passa quando passam os modismos.
                 Muitos papos e divagações depois, percebemos que a coisa não está tão difícil. Como em outros setores de nossa cidade, parece que o que está faltando é um projeto político, um direcionamento. Mais ações concretas e menos obras de fachada. De que adianta uma biblioteca sem livros (ou sem atualização) e que fecha durante à noite, ou nas férias quando poderíamos freqüentá-la? Precisamos de espaço e incentivo para seu uso. Acho que pode estar nascendo um projeto para cultura em Itaú. Interessados pelo assunto: unamo-nos!

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