segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Ato de Escrever - 27/09/2003


Dedicado à Deisilane, que tem muito
o que dizer e nem sempre o consegue.
 

(Reflexões sobre o ato de escrever suscitadas por uma aluna em sala de aula com a frase "Se eu pudesse voar...")

                         Escrever é bom. Mesmo que tenhamos dificuldades, escrever nos alivia a alma.
                         Quando inventamos uma história, liberamos nossa mente para expressarmos nossos desejos e até nossos medos. Diante do papel em branco, somos livres para inventar, mentir, fofocar, aterrorizar, usar a violência e o crime. Isso se chama criatividade, essa capacidade de sairmos de nossa vida comum, do jeito tradicional de fazer as coisas e ousar criar outra vida, para nós mesmos ou para outros. E podemos fazer isso sem medo e sem culpa porque não é para valer. É apenas ficção.
                          Dizem que ler um livro é viajar em sua história. Escrever é mil vezes melhor, porque além de viajarmos, podemos escolher o roteiro e nossas companhias.
                          A liberdade de escrever se compara à liberdade de pensar, porém é bem melhor que esta. Quando pensamos, o conhecimento é só nosso. Quando escrevemos, nossa criação passa a pertencer à humanidade, que pode ter acesso a nosso texto, conhecer nossas idéias e tem a possibilidade de viver conosco as aventuras traçadas por nossas letras. Nos tornamos  provedores de um mundo de possibilidades que oferecemos a quem nos lê.
                           Escrever é um ato de coragem: nos expor em palavras traçadas em folhas de papel. É um ato de libertação: deixarmos de ser simples criaturas para sermos criadores. E para nossos personagens somos deuses controlando seus destinos. Escrever é um ato de rebeldia: criar um mundo alternativo, um mundo diferente desse em que vivemos e que julgamos não ser bom. Aí sacamos do lápis e do caderno e revolucionariamente inventamos outro mundo melhor. Ou pior.
                            Agora, nesse momento em que escrevo, não sou mais uma pessoa comum. Sou onipotente - tudo posso. E se alguém duvidar, que entre no meu mundo de vocábulos e me desafie! Morte cruel sofrerá sob minhas palavras. Porque do meu texto sou senhor absoluto e as palavras impotentes não se rebelam. Apenas me obedecem. Eu, Imperador do Léxico e da Semântica.
                             O destino não existe para o escritor. Apenas sua vontade e sua lei. Não existe mortalidade. Apenas o registro eterno de sua obra que pode ultrapassar as noções comuns e vencer as limitações, porque num texto, apenas o autor manda.
                             Quem escreve é comandante supremo do mundo das palavras, das idéias e dos sentidos.


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