Lembro-me de uma música de Padre Zezinho de bastante tempo atrás, onde ele dizia mais ou menos que cantaria uma canção pedindo para nunca se cansar. Eu faria uma oração para que minha mente permaneça sempre aberta. Já perdi algumas coisas por ser cabeça dura. Oportunidades únicas podem ser perdidas...
Tenho um gosto musical muito definido e um elenco de ídolos aos quais sou extremamente fiel. Quem não faz parte desse seleto grupo costumava ser encarado por mim como sem-qualidade. Mas felizmente, descobri a tempo que existem outras coisas além do meu conhecimento. Há alguns anos, conheci através de um amigo uma cantora nova e me apaixonei pela sua voz e seu repertório. Era Ana Carolina. Uma voz forte, grave e uma liberdade de interpretação impressionante. Alia-se a isso arranjos muito interessantes e uma temática muito legal nas letras, incluindo músicas regionais e regravações de Chico Buarque, Lulu Santos, Herivelton Martins e Dalva de Oliveira. E muitas baladas.
Nesse mês estou descobrindo outra preciosidade que estava passando batida: Zeca Baleiro. Já havia ouvido algumas músicas dele e gostado razoavelmente, sem entretanto dedicar a devida atenção. Aí alguém fez algum comentário perto de mim. E outro dia, mais uma pessoa próxima comentou que Zeca havia declarado apoio à eleição de Lula. Bom, aí achei que já estava na hora de procurar saber o que mais havia de comum entre nós e passei a procurar suas músicas na internet. A primeira tarefa foi reouvir À Flor da Pele : de arrepiar. Há uma gravação com Gal Costa no CD Acústico, mas só com Zeca Baleiro é mais emocionante. Relembrar Lenha, Quase Nada, Heavy Metal do Senhor e Bandeira. O cara é craque! As letras são muito boas e os arranjos também. Há muito lirismo e também muita fusão do tradicional com o moderno - rap, ska, drum&bass, baião, embolada e partido alto. O cara conseguiu transformar o pop-rock Proibida Pra Mim de Charlie Brown Junior numa tremenda balada perfeitamente acústica. Em Fiz Esta Canção ele canta em ritmo de bolero "Fiz esta canção só pra você, mas pra que?, se você só gosta de MPB. E eu sou puro... puro rock'n'roll". Comigo é outra levada muito legal. Altamente poética é Maldição, onde ele fala dos poetas malditos, incompreendidos que não conseguem o sucesso. Nessa música, ele consegue rimar Baudelaire com Macalé, faz trocadilho entre Rimbaud (Rambô) e Rambo, a Missão; Waly Salomão e Onde Está o Wally. Cita Vicentinho e Luiza Erundina e, melancolicamente, aconselha-os a voltar pro sertão, plantar tulipas para a burguesia. Luiz Melodia, Itamar Assunção, Edgar Allan Poe. Pobres e melancólicos malditos. "O meu coração não quer dinheiro, quer poesia". Também de um maldito (Sérgio Sampaio - lembram-se de Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua???) é a excelente Tem Que Acontecer "Mas não posso fazer nada, eu sou um compositor popular" com um arranjo flamenco super contagiante.Zeca Baleiro é a bola da vez. Recomendo altamente. O resto é perfumaria.
... Bom, e o que era para ser uma crônica virou uma crítica ou recomendação musical. Só para voltar ao tema inicial, que os deuses mantenham nossa mente aberta, a espinha ereta e o coração tranqüilo (isso é do Walter Franco - mais um maldito) para aprendermos mais, estarmos mais sintonizados com nosso tempo, mesmo sem esquecer os valores verdadeiros de outrora e aproveitarmos mais as oportunidades que nos aparecem, mesmo que às vezes não as consigamos distinguir em primeiros momentos.
PS. Tenho um grande amigo que está distante e passando por situações difíceis, momentos de solidão. Eu tenho me ressentido de sua falta e de nossas conversas diárias e nossas perdas de tempo agradáveis. Amigo Márcio, esteja firme. Os céus do planalto central sãos os mesmos das montanhas de Minas e você é o mesmo aqui ou aí. Sejam maior do que as circunstâncias. Os caminhos sempre surgem, você sabe disso. Aonde eles vão dar pode não estar muito claro, mas se não caminharmos, como saber o que há no fim?
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