quinta-feira, 12 de julho de 2012

Livros - 30/11/2002


             Sou um leitor inveterado e lamento muito que ler seja uma façanha de minorias.  Numa situação de privilégio, da qual não me lembro muito bem e nem dei um valor muito relevante na época, adquiri a capacidade de ler - esse ato mágico de decifrar riscos e entender o que outro ser humano quis  transmitir em determinado momento. Mas me lembro muito bem de ter estado frequentando bibliotecas desde então. E de lá pra cá as palavras me fascinam e leio tudo que me cai nas mãos ou se me oferecem aos olhos: de jornais e revistas a folhetos e bulas de remédios. Se hoje consigo escrever alguma coisa, não tenho dúvida de que é porque muito li.
               Nessa minha atividade de leitor, tenho uma premissa básica de não deixar nenhum livro inacabado por ler. Todos aqueles que começo, termino; mesmo que não esteja gostando muito muito. Isso às vezes me traz um desconforto, mas tento manter minha meta. Não aconselho isso para quem tem mais dificuldade de ler, porque é chato demais ficar lendo algo maçante. O ideal é encontrarmos os autores com quem temos afinidades para uma leitura prazerosa. Normalmente, mantenho em mente um estoque de livros que pretendo ler e vou deixando aqueles maiores ou mais difíceis para períodos de férias, quando o tempo disponível é maior, apesar que as atividades que invento também são mais diversas. Assim, tenho lido o Dom Quixote de Cervantes, Fausto de Goethe e a trilogia O Tempo e o Vento de ÉricoVeríssimo. 
              Nos dias em que tirei uma licença médica devido a uma luxação no cotovelo, fui em busca de um desses livros que eu queria ler há muito tempo e a escolha caiu na obra Demian de Herman Hesse, o qual me lembro de ver uma amiga lendo há uns vinte anos e me despertou a curiosidade. É um livro pequeno, de umas cento e poucas páginas e achei que o leria rapidamente. Que engano! Levei mais de um mês para lê-lo e só o fiz por honra de meus princípios. A toda hora sentia vontade de desistir. Só a muito custo cumpri a tarefa.
              Na semana passada voltei à bibblioteca para pegar um livro para minha filha e para não perder o costume, fui escolher um para mim também. A opção foi Levantado do Chão de José Saramago. Como a coisa foi diferente! Em uma semana li vorazmente as quatrocentas e tantas páginas do livro. E olha que Saramago não é fácil de ler! Ele tem um estilo todo próprio e usa regras próprias de pontuação. Além disso, ainda não consegui sintetizar a maneira como ele conta sua história, com digressões suas misturadas com dos personagens, adiantando fatos que só aconteceriam em outra parte do livro, nos envolvendo como narradores, enfim, uma deliciosa bagunça. É também um cara com agudo senso de crítica social, o que muito me agrada. É um mestre. Acho que minha afinidade com ele é parecida com a afinidade que tenho com vários autores latinos. Parece que está em nosso sangue, ou em nossas línguas irmãs. Parece que os latinos têm esta tragédia presente nos tangos argentinos, esse sofrimento dos povos latino-americanos, essa estranheza de Portugal, Espanha e Itália meio fora da Europa (até no mapa são penínsulas querendo sair ou sendo expulsos do Velho Continente). 
              É isso aí. Procure o seu estilo. Ache o autor que lhe satisfaça, mas leia. Uma grande parte do patrimônio da humanidade está aí registrada em livros. O que pensaram e pensam os grandes autores, seres humanos como nós, que procuraram grandes respostas e deixaram pelos menos grandes pistas para nós.          

Ronaldo Amorim Teixeira é leitor inveterado e aceita sugestões de livros pelo email ronaldoat@yahoo.com

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