"Vossos filhos não são vossos filhos.
Eles são filhos da ânsia de viver."
Gibran Khalil Gibran
(Canção desesperada para uma partida inevitável. Balada cheia de esperança por novos caminhos que se abrem.)
Se alguém perguntar por mim, diga que sumi. Diga que saí por aí, pra lá de Marrakesh ou do Hawai. Diz que mudei a conjugação do verbo pra linguagem coloquial. Que sei que a terceira pessoa no imperativo afirmativo é diga, mas que quero falar com a linguagem do povo brasilis, ao qual quero pertencer, das gentes da patriamada que não quer saber de mesóclises e inverte pronomes enclíticos para colocar as pessoas em primeiro plano. Me dá um tempo, vai. Diz que fui por aí, andando por jardins em noites escuras, revirando pedras, vasculhando moitas. Procurando sapos espantados e costurando nomes dentro de suas bocas. Deixando lá dentro deles enquanto secam, seu nome preso. Você não vai embora. Costurei seu nome na boca do sapo. Empunhei a carranca, fiz figa, evoquei meus orixás, eparrei, minha mãe! Rezei. Circulei a casa com sal grosso. Pus pentagramas em cada porta.. Você não sai daqui... Ou então, vai, porque este é o seu caminho. E sua prisão é só dentro do meu coração e minha lembrança de você, além de todos os minutos, será quando o bem-te-vi cantar pela manhã em sua janela, insistindo em te acordar. Insistindo em gritar: meu bem, te vi, te vi, te quero ver. Menina acordada a bico de pássaro. Talvez um dia eu corte a árvore para espantar os bem-te-vis. Talvez eu os despeça do serviço contratado de despertadores. Talvez eu os mate a tiros, para evitar que eles passem a gritar para outros bens.
Se alguém perguntar por mim, diga que sumi. Diga que saí por aí, pra lá de Marrakesh ou do Hawai. Diz que mudei a conjugação do verbo pra linguagem coloquial. Que sei que a terceira pessoa no imperativo afirmativo é diga, mas que quero falar com a linguagem do povo brasilis, ao qual quero pertencer, das gentes da patriamada que não quer saber de mesóclises e inverte pronomes enclíticos para colocar as pessoas em primeiro plano. Me dá um tempo, vai. Diz que fui por aí, andando por jardins em noites escuras, revirando pedras, vasculhando moitas. Procurando sapos espantados e costurando nomes dentro de suas bocas. Deixando lá dentro deles enquanto secam, seu nome preso. Você não vai embora. Costurei seu nome na boca do sapo. Empunhei a carranca, fiz figa, evoquei meus orixás, eparrei, minha mãe! Rezei. Circulei a casa com sal grosso. Pus pentagramas em cada porta.. Você não sai daqui... Ou então, vai, porque este é o seu caminho. E sua prisão é só dentro do meu coração e minha lembrança de você, além de todos os minutos, será quando o bem-te-vi cantar pela manhã em sua janela, insistindo em te acordar. Insistindo em gritar: meu bem, te vi, te vi, te quero ver. Menina acordada a bico de pássaro. Talvez um dia eu corte a árvore para espantar os bem-te-vis. Talvez eu os despeça do serviço contratado de despertadores. Talvez eu os mate a tiros, para evitar que eles passem a gritar para outros bens.
Se alguém perguntar por mim, diz que saí pela cidade. Vesti meu carro, abotoei o cinto e me ajustei a ele. Conectei-me à ignição. Coração sincronizado ao motor, respiração ao compasso do escapamento, homem-máquina obedecendo sinais, de vez em quando cometendo pequenas infração ao Código Nacional de Trânsito. O ser humano é transitório. Ligo os faróis, olhos varrendo as ruas, buscando sombras e imagens, um andar, uns cabelos, uma voz que não aparecem. Eu estou nas ruas. Tome cuidado. Ande nas calçadas, atravesse na faixa. Eu sou a máquina pensante, angustiada por ser máquina. Mistura de Frankstein, Blade Runner e Matrix. O óleo circulando pelas engrenagens, diminuindo o atrito, mas o que escorre lentamente pela junta defeituosa do cárter é sangue. Let it bleed.
Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí, como um adolescente ao som do Creed e seu inglês mal pronunciado, rosnado entre os dentes, caipira. My Sacrifice, Inside Us All, With Arms Wide Open, One Last Breath (I'm six feet from the edge - à beira do abismo). Será que alguém além de mim sente esse fascínio por essas músicas angustiosas? Será que os jovens sentem a angústia dessas músicas ou ela está em mim? Nos ecos do Creed escuto Kid Abelha "As entradas no meu rosto / e os meus cabelos brancos / aparecem a cada ano/ no final do mês de Agosto", bela voz tem a Paula Toller. (Everything is gonna be allright. Close your eyes, close your eyes and feel it. I'm riding and riding across the streets, gardens and minds, doing what heads don't think, but hearts really want.)
Tem uma moça que é dona do meu bem querer. O som de sua voz apazigua meu coração e sua risada (ah, a sua risada...) é única, e aberta, e alta, e sonora como umas palavras usadas por Guimarães Rosa, como uns crepúsculos pros lados da Lagoa, como os abacateiros de minha infância, como o canto do patativa de meu pai, que gostava de competir com o som do rádio, e quase sempre, ganhava. É uma risada que contagia, atravessa a sala, sai pelas portas dos quartos, preenche a varanda. E faz ter esperanças na vida, e faz acreditar que ela é só uma moça sedenta de vida, espremida entre a vida real e sua bondade. É uma moça que conhece suas potencialidades e não tem medo do mundo. Mas de vez em quando ela encontra seus pais com os corações apertados porque eles já ouviram Cartola dizer que o mundo é um moinho. E eles aprenderam tristemente a desconfiar do mundo nos mais de vinte anos em que deixaram de ser crianças, apesar de ainda acreditarem na vida.
Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí. Mas se for alguém de quem eu gosto, diga que estarei onde sempre estive, rocha sólida, moirão de esteio, braços abertos e sorriso de acolhida.
* O título é emprestado de uma música de Beto Guedes.
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