(Você já notou como nem sempre vemos as coisas boas ao nosso redor?)
As coisas estão aí do nosso lado e não percebemos. Com nossa atenção voltada para a mídia, para os grandes centros, para o que é motivo de escândalo em manchetes de jornais ou para o que nos amortece nos Fantásticos rotineiros das noites dominicais, deixamos de ver que o show da vida acontece aqui, pertinho da gente. Pioneirismo, então, não podemos crer que venha de uma cidade pequena como Itaú. É claro que de vez em quando nos deparamos com alguma iniciativa, legal, interessante, mas logo voltamos nossas atenções para o "de fora", não acreditando que o santo de casa faça milagre, e que aquela boa idéia dure muito tempo.
Estou falando essas coisas porque nesse mês de agosto, considerado mês das catástrofes e do azar, o Grupo Amigos Para Sempre de Itaú de Minas completa dez anos de existência. Eu me lembro de ouvir falar de vez em quando desse grupo, às vezes até com uma certa dose de preconceito. Recentemente, num seminário sobre o Programa Fome Zero, convidamos esse grupo para fazer uma apresentação teatral e eu já comecei a me surpreender com eles. Nesses dias, estive em um outro evento de nível regional com renomados profissionais da área onde a unanimidade era a louvação da existência do grupo. O evento foi o Fórum Regional de Saúde Mental e o Amigos Para Sempre é um grupo para portadores de sofrimento mental. Funciona como um grupo de terapia onde os participantes se ajudam e superam suas dificuldades. Realizam atividades de teatro, dança e artesanato. Promovem reuniões e eventos como bingos para arrecadação de fundos e contam com vários voluntários auxiliando seu funcionamento. Sou leigo no assunto e não vou me aventurar a tecer considerações sobre métodos, mas posso dizer que pela seriedade do Fórum e pelos abundantes elogios ao grupo feitos pelos psicólogos, professores e doutores presentes, acredito ser uma experiência de sucesso. E louve-se que não é momentânea, já que conta com dez anos de funcionamento. Posso não saber nada de teorias, mas não posso deixar de perceber o rosto das pessoas, janelas abertas das almas. E os rostos dos integrantes do Grupo mostraram-me felicidade, disposição. Pareciam pessoas libertadas, corajosas. Com a mania de nossa sociedade de rotular as pessoas, de intolerância com os diferentes e com o histórico do tratamento mental no mundo, não posso imaginar onde estariam essas pessoas sem esse grupo, mas posso dizer que, com certeza, o mundo é mais feliz com a existência do Amigos Para Sempre. E todos nós, membros ou não do grupo, um pouco mais tranqüilos, um poucos menos sofridos, um pouco mais justos. Ciente de cometer injustiças, vou citar aqui algumas pessoas, não pela importância no grupo, mas pelas impressões que deixaram em mim: Júnior, o Dr. Júnior, psicólogo idealizador do grupo; pela perseverança, afinal são dez anos trabalhando, até onde eu possa notar, sem um reconhecimento mais amplo. Pelo carinho com que é tratado, só pode ser gente boa, pela humildade e pela vontade de não-aparecer e, sobretudo pela capacidade de chorar de emoção com o grupo. Outra pessoa super dedicada é Dona Antônia, e me fez bem reencontrá-la. Boas recordações eu trago dela no início dos anos noventa, quando éramos super animados com o PT e eu e o Tiãozinho Presley, filho dela, vivíamos dando trabalho para ela quando saíamos pelas madrugadas pichando muros, colando cartazes e distribuindo panfletos. Com satisfação e muitas lembranças entrei na casa dela passando pelas roseiras e bananeiras (as mesmas de doze anos atrás?), encontrei a casa do mesmo jeito, Dona Antônia com a mesma disposição para conversar, querendo fazer café e bolinhos. Lembrei o tempo que fazíamos uma cola de polvilho, limão e soda cáustica para os cartazes pelas noites antigas. Dona Raquel, pela disposição e pela capacidade de se transformar, de criar personagens e de transmitir alegria. Maria Helena, de Campinas, pelas palavras sábias, pela beleza, pela naturalidade com que se apresenta, pela simpatia extrema e por cantar comigo algumas velhas canções. Gostaria de encontrá-la novamente. E por fim, Luciana, de Varginha, por me dar atenção e por uma frase dita: "Se não posso mover os céus, moverei os infernos." Que queres? Quero tudo e algo mais, que ainda não sei o que é, mas que tenho a certeza de que quero!
As coisas estão aí do nosso lado e não percebemos. Com nossa atenção voltada para a mídia, para os grandes centros, para o que é motivo de escândalo em manchetes de jornais ou para o que nos amortece nos Fantásticos rotineiros das noites dominicais, deixamos de ver que o show da vida acontece aqui, pertinho da gente. Pioneirismo, então, não podemos crer que venha de uma cidade pequena como Itaú. É claro que de vez em quando nos deparamos com alguma iniciativa, legal, interessante, mas logo voltamos nossas atenções para o "de fora", não acreditando que o santo de casa faça milagre, e que aquela boa idéia dure muito tempo.
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