domingo, 14 de abril de 2013

Tony, the Lawyer

Ronaldo Amorim

Eu tenho um amigo. Até aí nenhuma novidade, porque muita gente tem um amigo. Aliás, eu tenho mais de um amigo. Mas esse amigo tem uma característica especial. Calma. Daqui a pouco explico essa características. Antes vou falar do nome dele, ou de como ele é chamado, e junto com isso, vão já algumas características do Tony, the Lawyer. Na verdade, o nome dele é Antônio, mas com sua mania de americanismo, acrescentou um título em inglês. E ainda calhou de ele ser advogado, aproveitou e lascou um lawyer ao nome. O apelido pegou igual dengue em vizinhos descuidados, por que lawyer tem um som muito parecido com outra palavra em inglês: lier, que quer dizer... mentiroso! Longe de mim querer dizer que advogados mentem. Nem posso falar que o Tony fala mentira! Ele apenas... falta com  verdade de vez em quando. Ele apresenta uma versão alternativa da realidade... Ele de vez em... sempre, apresenta uma realidade variável.
Não, meus amigos, a mentira não é a característica principal de Tony, the Lawyer. Sua característica principal é conhecer todos os assuntos (nasceu para ser advogado). Conhce leis, engenharia, botânica e poesia. É mestre em línguas, política, comércio e ecologia. Toca vários instrumentos, possui doutorado em economia, pós-graduação em sociologia. Com tanta qualificação, por que iria mentir?
A verdade (ou uma versão dela), é que a característica principal de Tony é querer mostrar conhecimento em tudo. Aí, quando desconhece algo, ele inventa! E faz as declarações mais descabidas com a maior cara de pau. E se você discutir aquela opinião, pode se preparar para uma infinidade de data vênias e acórdãos e pesquisas que, sem sombra de dúvida, provarão que Tony tem razão mais uma vez.
Por toda essa eloquência e prolixidade, ultimamente Tony tem ficado solitário. É que o pessoal já está cansando de ter que concordar com suas lorotas e se afasta. Esses dias, a caminho do trabalho, quando entrei no ônibus, só tinha vaga ao lado dele. Prevenido, pus meus fone de ouvido e liguei o som, para evitar conversa, mas Tony nem se tocou. Logo puxou o assunto, perguntando o que eu estava ouvindo. Calhou de ser o bluesman Eric Clapton e Tony aproveitou para sapecar um monte de teorias sobre a guitarra e o blues. Eu, que não sou doido de discutir com Tony, the Lawyer, concordei com tudo, mas já com uma ponta de maldade, perguntei para ele o significado do nome do CD que estava ouvindo, Pilgrim. Tony não titubeou e afirmou que significava pirilampo (talvez numa realidade paralela, ou talvez, Clapton tenha dado o nome ao cd em outra língua, porque no bom inglês, pilgrim significa peregrino. Pode ver no Google Translator! Mas não vai ser eu que vou pegar o Tony numa mentira. Já emendei outra pergunta para ele: Pirilampo??? Por falar nisso, qual a diferença entre pirilampo e vagalume? Pensam que ele se apertou? Que nada! Retirando seus óculos de resina azul, proferiu: Elementar, meu caro Ronald, o vagalume é um animal que acende sua luz para piscar, enquanto o pirilampo exibe suas intermitências apagando a luz própria que tem!
Salvo pela parada do ônibus, desci para o trabalho com mais essa pérola: vagalume acende e pirilampo apaga. Vou duvidar? Eu não! A gente já acredita em tanta coisa que vê na televisão, tanta coisa que, à boca miúda, nos falam. Acredita em jornais e até no que muitos políticos dizem! Deixa o Tony falar. Afinal, ele é o The Lawyer ... ou the lier.
P.S. Estou lendo um livro de crônicas do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, em cujo estilo, procurei inspiração para esse escrito. Vai como uma homenagem ao Stan. Vai também como homenagem para Mário de Sá-Carneiro, poeta e romancista português, que juntou todos seus eus, no personagem principal de “Confissões de Lúcio”, afinal, de médico e louco, todos nós temos um pouco. De mentiroso então, a gente tem é muito.
P.S. 2 - Sobre a foto que ilustra a versão da crônica no blog: Ok, sei que a imagem não tem nada a ver com a crônica. Ou tem? Tony, the Lawyer diria que sim e explicaria que o nome da libélula, que muitos de nós chamamos de lava-bunda, o nome dela em inglês é dragonfly (pode conferir, essa parte é verdade), mas ele acrescentaria que esse nom efoi dado porque algumas espécies, quando se sentem em perigo, expelem uma enzima qu ecausa uma sensação de ardência na pele, como se cuspissem fogo, logo: mosca-dragão... mas essa parte não sei se é verdade...

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