Salve, Francisco
Ronaldo Amorim
Numa semana agitada, de
férias, de frio, de muitas atividades, um fato que chamou a atenção foi a
presença do Papa Francisco no Brasil. Que simpatia de pessoa! Que carisma! Como
sua figura na televisão criou uma vontade de ver mais... Nada de ficar no alto
de sua posição, nada de pompa. Pelo contrário, usou carros simples, com vidros
abaixados. Voou em classe econômica. No papamóvel, permaneceu sempre se
movimentando de um lado e de outro para manter contato com as pessoas. Recebeu
inúmeras crianças no colo. Desceu para cumprimentar pessoas. Falou aos jovens e
não fugiu de temas polêmicos.
Mais do que seu discurso,
o que marcou foi sua atitude, seu jeito de se mostrar e isso é muito importante
em um evento direcionado aos jovens (apesar de que tinha jovens de todas as
idades nos eventos que incluíam o Papa). Jovem está cansado de discursos, de
palavras vazias. O jovem quer ver a união entre a ação e o discurso. De
preferência, o jovem quer menos discurso e mais ação e Papa Francisco mostrou
que a ação transformadora parte de coisas simples, de seu sorriso aberto. Está
em sua coragem de estar em contato com as pessoas. Mais de uma pessoa notou que
seu comportamento nos remetia à figura de avozinho, com quem sempre queremos nos
encontrar, com quem temos muito o que aprender, com quem sempre queremos
conversar. Não seria de se estranhar se pudéssemos chamá-lo de Chico, ou melhor
ainda, de Chiquinho, carinhosamente.
Corajoso sem ser afoito,
não fugiu das questões polêmicas nem distribuiu respostas irresponsáveis a essas
questões. Deixou esperanças para novas demandas da sociedade e da igreja. Quando
a repórter quis acuá-lo questionando-o sobre homossexualismo, ele não fugiu da
palavra “gay” e foi acolhedor, acenando com a compreensão: "Se uma pessoa é gay,
busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", afirmou o Papa. Está
longe de uma aceitação do relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo,
mas é um avanço vindo da maior autoridade dessa instituição.
Outra polêmica encarada
pelo Papa foi a questão do divórcio seguido de novo casamento e comunhão.
Mostrou preocupação com a questão e acenou para mudanças na pastoral
matrimonial. Disse que questão do divórcio precisa ser enfrentada pela Igreja e
que um cardeal avaliou que a metade dos matrimônios é nula, devido a casamentos
feitos sem maturidade ou ocorridos por convenções sociais.
A questão que desapontou,
visto que não deixou espaço para conversa foi a questão da possível ordenação de
mulheres. Apesar de afirmar que o papel das mulheres é mais importante que o dos
bispos e de dizer que não é possível imaginar uma igreja sem mulheres ativas,
achei que ele fugiu da questão e "lavou as mãos" afirmando que "Esta porta foi
fechada" por João Paulo II. Se a igreja católica se prendesse ao que foi
decidido por Papas anteriores, ainda estaríamos comprando
indulgências...
Por fim, gostei muito
também do comportamento do Papa sobre as manifestações políticas ocorridas no
Brasil. Questionando a respeito (talvez com a maldosa intenção de arrancar uma
crítica ao governo brasileiro), Papa Francisco se absteve de opinar sobre o que
não tem conhecimento. Ainda afirmou que é natural do jovem o questionamento e o
protesto. Para ele, um jovem que não protesta não o agrada. E ainda recomendou o
entendimento: "Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção
sempre possível: o diálogo".
Com certeza, católicos
mais fervorosos poderão avaliar melhor a presença e as palavras do Papa no
Brasil. Eu fico apenas com a boa impressão que foi transmitida pelo sorriso de
Francisco e seu comportamento aberto. Deus o abençoe.
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