Feliz Cidade
Ronaldo Amorim
Depois de um dia
de trabalho cansativo, mas honesto, eu tenho a felicidade de chegar em minha
casa, na cidade que me acolhe e me dá repouso. Então, no meu rosto se abre um
sorriso de agradecimento a essa cidade, onde plantei meus sonhos, essa cidade
onde cuidei de meus pais e criei meus filhos . Essa cidade onde derramo meu suor
e colho os frutos do meu trabalho. Essa cidade onde vivo meu amor, minhas
angústias, minhas esperanças. Essa cidade onde tenho amigos, parentes,
conhecidos, cada um com seu grau de afinidade, cada um com sua vida sincera,
seus problemas, suas soluções. Essa cidade que eu queria bem melhor, que podia
bem mais. Essa cidade que me deu mais do que mereço e a quem eu procuro
retribuir, apesar de minhas limitações, de minha preguiça, do meu
cansaço...
Minha memória
percorre as ruas de minha cidade e lembro-me de calçadas cheias de obstáculos e
buracos. Sonho com calçadas limpas, planas, adequadas aos passos vacilantes dos
idosos, ao caminhar distraído das crianças, às necessidades especiais dos
cadeirantes.
Meus ouvidos
escutam os sons da cidade e procuram uma voz amiga, perdida em meio aos barulhos
dos carros, gritos mal-educados, palavras de baixo calão, incômodas propagandas
em carros de som, músicas em volumes absurdos em carros que
trafegam em altas horas. Meus ouvidos sonham com palavras doces e educadas, bom
dia, obrigado. Meus ouvidos ainda sonham com uma cidade onde cada um respeite
os ouvidos dos outros, que ouça o som de sua preferência sem obrigar o outro a
ouvir músicas das quais não gosta. E o som ouvido nas madrugas possam ser apenas
suaves serenatas com vozes melodiosas embaladas por mãos hábeis em instrumentos
cúmplices.
De olhos
fechados, aspiro o ar de minha cidade procurando ar puro, perfume de rosas, o
cheiro do povo. Encontro esse ar carregado, cheiro de fumaça, rejeitos
queimados, na Avenida da Liberdade, o cheiro do esgoto. Sonho com o ar de
antigamente, filtrado pelas árvores que existiam nas praças e calçadas. Sonho
com o ar perfumado pelas flores dos jardins.
Meu coração
procura pessoas sinceras, bem humoradas, solidárias... e encontra. Minha cidade
vale a pena por causa de pessoas boas que ainda existem. Dizem que existem
também pessoas desonestas, más, manipuladoras, egoístas, mas estas pessoas, não
quero encontrar, prefiro ignorá-las, apagá-las de minha vida. Não existem para
mim.
Cansado de
reclamar do que não tenho, prefiro aproveitar as coisas boas que tenho.
È aniversário e
minha cidade e não é culpa dela se alguns (poucos? muitos?) não colaboram com
ela.
Obrigado Itaú de
Minas, por sobreviver aos maus tratos. Obrigado, minha cidade, por me permitir
ser feliz em seu solo, entre sua gente. Parabéns pelo seu aniversário. Espero
poder retribuir tudo que você me deu. Espero um dia repousar em seu solo,
semeando com meu corpo o profundo sentimento que tenho por essa
cidade.
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