quinta-feira, 13 de junho de 2013

Deixa Que Eu Conto

                                                                                        Ronaldo Amorim

Era uma vez um homem que era também um menino. E que gostava muito de histórias contadas porque desde há muito tempo, a mãe lhe contara histórias. E eram histórias lindas como devem ser os sonhos das borboletas, as aspirações das fadas, os desejos dos seres encantados.
            Ainda quando ele era um bebê (ele tem uma vaga lembrança disso tudo)a mãe o colocava no colo das irmãs e descortinava frente a eles o horizonte de seus contos, com seus príncipes e suas carruagens de abóboras.
            Fora dos contos, o tempo passou e ele cresceu vivendo sua história. A mãe morreu, as irmãs se casaram e as histórias diminuíam cada vez mais. Encontrou semi-princesas que viraram bruxas e quase-bruxas que se fingiam princesas. Foi feliz, apesar de sempre sentir uma pontinha de angústia. As histórias escasseavam. Ninguém lhe contava mais histórias. No máximo, ouviam a história dele. História sem graça, feita de esperanças e interrogações.
            Ele continuava sua vida e seu poço de angústias crescia sem que ele percebesse. Nunca matou um dragão! Nunca se deparou com uma princesa adormecida para beijar! Encontrava sapos, mas não os beijava. Não por serem feios, mas porque no máximo,, virariam príncipes. E ele ansiava era pela princesa.
            Sempre que podia, ouvia histórias. Buscava no cinema, no teatro, nos livros. Vivia procurando quem contasse histórias. E foi assim, que um dia, de passagem por uma cidade estranha, ele viu uma moça contando a história de Rapunzel. A voz terna lhe recordou o tempo de infância, o colo materno. A moça era linda! Tinha longos cabelos dourados. Ele até pediu para tocar, para ver se eram de verdade... e eram!
            Ele não sabia se estava encantado ou encontado (em um conto????), mas fez o pedido óbvio, trocando palavras: “Moça, lança-me suas melenas!”. E ela, desdizendo sua personagem, falou: “Não, essa história já existe. Caminhe comigo e vamos fazer o nosso próprio conto de fadas.”
            De  seus relacionamentos anteriores não se tem mais notícia. Talvez as outras pessoas tenham ido para outros contos, tenham se desencantado ou estejam Por aí, procurando seu destino. Mas ele não teve mais agonias. Encontrou sua princesa e passa suas noites tecendo-lhe lindas tranças de ouro.
                                                                                                                                                MCMXCV

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